Sam Philips já havia provado ser um bom homem de negócios desde que abriu a Sun Records, em 1952, sendo responsável pelo lançamento de alguns dos maiores artistas da música americana, como Elvis Presley, Johnny Cash, Carl Perkins e Jerry Lee Lewis. Portanto, quando esses quatro gigantes se reuniram na talvez mais famosa terça-feira da história, Sam não perdeu tempo: ligou os gravadores e registrou cada momento.
No dia 04 de dezembro de 1956, Carl Perkins gravava um novo álbum com seu trio, turbinado na ocasião pelo novato Jerry Lee Lewis tocando piano, quando, por puro acaso, topou com Elvis e Johnny, ambos apenas se divertindo no número 706 na Union Avenue, endereço do estúdio. “Topando” talvez não seja a palavra certa: o encontro, mais do que uma verdadeira união de talentos, foi um golpe criativo de Philips, criando uma lenda a partir de uma simples jam session.
Para começar, Johnny Cash não canta em nenhuma faixa; o álbum, relançado diversas vezes com faixas extras a cada edição, não inclui nem mesmo uma frase falada pelo músico. Quem se sobressai ao longo e toda a sessão é Elvis Presley, cantando a maioria das músicas e falando muito. Elvis ainda toca piano, cedendo lugar umas poucas vezes a Lewis, que, ao contrário da técnica simples do rei do rock, martela as teclas de modo explosivo. Para finalizar as críticas, a maior parte das gravações são músicas incompletas, tentativas frustradas de engatar uma canção; aquelas que chegam ao refrão são raras, assim como os solos de Perkins, que aparecem apenas esporadicamente.
A propaganda acerca da sessão foi enorme: Sam convocou o jornalista Bob Johnson, do Memphis Press-Scimitar, um jornal local, para “cobrir” o encontro, e um fotógrafo para imortalizar aquele momento único (a única foto tirada ilustra esse artigo). No dia seguinte, o artigo, intitulado O quarteto de um milhão de dólares, tornava imortal a brincadeira entre os quatro, mesmo que as fitas ficassem arquivadas na Sun durante anos até finalmente serem disponibilizadas para o público.
Mas justiça seja feita: apesar de todos esses “poréns”, a jam tem um valor inestimável. Por vários motivos. De fato, os quatro se encontraram e tocaram juntos, o que, por si só, já é algo impressionante, dada a importância deles. O repertório, escolhido na hora, é composto, em sua maioria, por músicas gospel. Os artistas mostram uma descontração muito grande, cantando de modo tranqüilo e agradável, realmente curtindo o momento. Outro ponto alto são as conversas que se perpetuam entre as faixas. Elvis, o mais falante de todos, faz algumas revelações interessantes, como sua admiração pela versão de Don’t Be Cruel, canção escrita por Presley em parceria com Blackwell, feita por Jackie Wilson, na época com Billy Ward and the Dominoes.
No balanço geral, o álbum vale a pena. Existem muitas versões, sendo que a completa é a melhor delas, já que mostra tanto as canções (ou pedaços delas) quanto as conversas e risadas entre as músicas. Misto de curiosidade, boa música e valor histórico.
Aqui os vídeos das músicas :
Jerry Lee Lewis descrevendo o encontro :
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